LGBTQIAPN+
Nossa constituição como ser humano é resultado da nossa cultura, família, local de origem, educação e aspectos individuais. São muitos os conflitos que internamente são confrontados na nossa experiência de vida. Estar em um momento da história da humanidade em que ainda se exige um padrão de orientação sexual e de gênero engessado, torna mais árduo e doloroso a luta por progresso e mudança. A terapia surge como um meio de descontruir e elaborar esses padrões impostos pela sociedade.

“Somos todos bissexuais”, já diria Freud no século passado.
Sigmund Freud considerava que a homossexualidade é uma consequência direta da bissexualidade inerente a todas as pessoas. Para ele, pelo menos no nosso inconsciente, somos todes bissexuais e projetar uma personalidade homo ou heterossexual só depende de como a repressão atua na nossa mente.
Esse homem de costumes tradicionais fez, no início do século passado, o que muitas sociedades do nosso tempo ainda não foram capazes: conferiu igualdade aos homossexuais em relação a seus pares héteros. “A investigação psicanalítica opõe-se com extrema determinação à tentativa de separar os homossexuais dos outros seres humanos, como um grupo particularizado.” O inventor da psicanálise foi libertário em muitas de suas teses ligadas à sexualidade. Inclusive à homossexualidade.

Achava, por exemplo, que a proposta de “cura gay” era uma aberração. Em 1935, escrevendo para uma mãe americana, que se lamentava por ter um filho homossexual, o Freud deu esta resposta, muito à frente do seu tempo. “Nada há nela [na homossexualidade] de que se deva ter vergonha; não é um vício nem um aviltamento, nem se pode qualificá-la de doença. (…) Diversos indivíduos sumamente respeitáveis, nos tempos antigos e modernos, foram homossexuais, e entre eles encontramos alguns dos maiores dos nossos grandes homens (Platão, Leonardo da Vinci etc.). É uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como um crime, além de ser uma crueldade”.
Para se ter uma ideia de quanto sua perspectiva era avançada, foi somente em 1973, quase 40 anos após essa carta-resposta, que a Associação Americana de Psiquiatria finalmente retirou a homossexualidade da lista de transtornos mentais e somente em 2018 a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a transexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID) , deixando de ser considerado um transtorno mental e passou a ser uma condição.
A nossa sociedade carece de uma mudança na concepção que tem acerca da diversidade sexual, ainda observada por muitos indivíduos de forma preconceituosa e embasada em conceitos discriminatórios que são reforçados “por lógicas heteronormativas e que possuem poder de exclusão”.

O dualismo heteronormativo não faz sentido a não ser em sociedades teocráticas, onde os padrões de gênero são rígidos. Sociedades democráticas, de espírito laico, fundamentadas em ideais liberais de autonomia do sujeito, colabora para que as individualidades sejam expressadas, nós na clínica Diversidade fazemos parte desse movimento transformador.
Sempre que quiser acentuar o aspecto da multiplicidade, atendendo ao rigor conceitual
em psicanálise, o termo sexualidade deve vir no plural. Sejam as homossexualidades, as heterossexualidades, as bissexualidades, ou outro significante qualquer que se venha a nomear para se falar do assunto, neste caso, ele terá que aparecer necessariamente no plural, já que as sexualidades são tantas quantas são os próprios seres humanos: "Não existe "O Homossexual" e sim homossexuais, tanto quanto neuróticos, psicóticos e perversos" (QUINET, in QUINET e JORGE, p. 347).